Hoje assim como o vento frio que entrou pela janela aberta do quarto, e me fez puxar as cobertas, um pensamento “tentou entrar,” enquanto ainda estava nos ritos de acordar e sair da cama. Coisas da mente que tenta roubar a cena. Vou contar de forma palatável.

Esta manhã abri os olhos em meio a uma lufada de vento frio. Uma gostosura de arrepiar a pele, que  foi seguida do aconchego das cobertas em uma alternância  prazerosa entre o frio o quente. Em seguida, um pensamento também se insinuou:  “Estou cada vez mais sozinha.”

De onde veio isso?

Em fração de segundos este pensamento tentou empurrar a experiência de sentir a solitude, o corpo e o vento para segundo plano. Segundo plano que nada! O pensamento poderia ter aniquilado a percepção da experiência.

É claro que você sabe muito bem o que acontece, quando um pensamento assim surge. Quais são as emoções, memórias e personagens que vem junto. Ouso dizer sem medo de errar, que você já passou muitas vezes por isso. Um pensamento desses pode ser como um ‘tsunami imaginário’ destruindo seu dia, semanas… A vida.

Quando isso acontece, surge a lembrança de pessoas, situações, falas, julgamentos, associações, a vítima e outros personagens distorcidos tentam entrar em cena, os combos das expectativas que a sociedade tenta te enfiar goela abaixo surgem como meta de vida,  e logo, estás a se sentir mais insignificante que  “o cocô do mosquito na bala perdida do revólver do bandido.”

Sim. Isso acontece com uma frequência absurda, de forma tão rápida que nem percebes.  Semelhante a quando você coloca uma palavra no google, tecla enter e milhares de links associados surgem.

Uma merreca de pensamento como este: “Estou cada vez mais sozinha”… Ou outro pensamento que seja: “Como sou boa e espiritual,” e pronto: A tela mental fica lotada de “links.” Lixos organizados pela ordem de atenção que damos a eles.  De onde vem tais  pensamento? São reais? – Não!

Pode ser para te infernizar os dias ou encher a sua bola te fazendo considerar alguém especial. Papo furado. Quase sempre, distrações da mente a te impedir de sentir o AGORA.

É uma ideia interessante lidar com os pensamentos como fazemos com as baratas voadoras. (Fica-se em alerta quando aparecem e há uma urgência em acabar com elas,  antes que se escondam em algum lugar).

Mas o comum é que  no automatismo e inconsciência, as pessoas não só dão ouvidos a estes pensamentos, mas vão abrindo um por um os  “links” que vão surgindo. Fazem isso porque tem sido assim, por um vício, sem saber no entanto que pode ser diferente.

Hoje vejo que em todos estes anos de trabalho como psicóloga,  a maior parte do sofrimento relatado e sentido pelos clientes, vinha daí. Os  pensamentos, julgamentos e memórias se sobrepondo aos fatos. É uma mudança muito sutil no perceber, que transforma completamente a “visão” de tudo. Depois  destes ajustes da percepção,  me dei conta  que até o nome que recebi ao nascer “Joelma Silva,” era um “pensamento emprestado”. Sou grata a este empréstimo e o compartilhar de experiências, nos enredos onde o personagem Joelma, se envolveu tantas vezes.

“O mundo inteiro é um palco e todos os homens e mulheres não passam de meros atores. Eles entram e saem de cena, e cada um, no seu tempo, representa diversos papéis. – Shakespeare –

Dev Swaran é um nome sem muitas histórias e apelos emocionais, que veio entre outras coisas, como recurso para facilitar o estar atenta… Cada criatura que caminha na terra, voa nos ares ou está mergulhada nas águas, segue “sendo,”  experimentando a vida a  cada momento que acontece, sem precisar de nome ou definições. Estou explorando isso.

As pessoas vivem tiranizadas por memórias, expectativas, fantasias,  carregando estes fardos que não são reais, o dia todo pela vida inteira.

O que fazer?  Dê um clique, feche a aba, desative o aplicativo. Não é tão simples, pois é incomum. Não é tão complicado, pois é o natural.

Não acredite no que digo não vale a pena acreditar em nada. Explore… Experimente.

Como fiz isso nesta manhã? Voltei minha atenção para o momento: O corpo na cama, as cobertas, a janela aberta, o vento, o arrepio.

O pensamento persistiu ainda um pouco, como um cachorro arranhando a porta querendo entrar, latindo um: “Estou cada vez mais sozinha.”  A percepção do vento no corpo, da textura das cobertas, tornou de forma rápida, este “latido” um ruído distante, quase  inaudível. E então. Puft! Sumiu.

Levantei abri as cortinas e olhei para o alto. Nuvens e nuvens, juntando-se umas às outras, num continuo, sem intervalos. Um cinza claro tocando em impressões os olhos em todo firmanento.

De novo um pensamento: “O céu está nublado.”  – E com ele, uma sequência de múltiplas associações, suposições… memórias, roupas a vestir, blá…blá…blá… se insinuando.  De novo o mesmo aplicativo, semelhante a estas operadoras que ligam “trocentas” vezes oferecendo seus produtos. Fechei mais outra aba.

Neste instante de um “lugar dentro ”(digo isso por conta da precariedade das palavras), uma risada se fez presente: Céu nublado? É possível algo nublar o céu? São só nuvens entre os olhos, o céu e o infinito que está sempre como é.

Nenhuma associação, nenhuma memória, nenhuma suposição acompanhando … Só o ver, o silêncio, a conexão. Consciência.

O vento que sopra ainda agora enquanto escrevo sobre os imaginários redemoinhos da mente, é presença.

Para que temer o inferno  depois “da morte,” se este é o  inferno que nos tira a vida?

Florescer é sair destes infernos. É romper a casca. Não é uma meta.  É o destino.

Dev Swaran

Recebi estes dias a tarefa de escrever um texto para inaugurar a página de blog do novo site. Me sugeriram temas e direções. Estou na total desobediência. Não cumpri o prazo nem tão pouco a pauta. A Equipe da Florescer vai colocar no site,  posts escritos em outros tempos e contextos.  Hoje ao passar os olhos por eles, percebo que aquela que escreveu muitos deles não está mais aqui. Tudo certo. Quem disse que é o mesmo vento que me toca agora a pele?

Se você está lendo e isto desperta algo em você, que tal fazer esta conexão tão viva como o vento que e entrou na janela e me inspirou neste texto? Te convido a esta interação pois um jardim é vivo. A  partir dela, talvez novos  textos possam surgir. Te convido a esta interação.

Um jardim vivo, com tudo que tem direito. E  lembre-se,  é preciso que a semente ouse estar só na escuridão da terra, e é no  contato com os elementos e com o dentro, que vem a transformação. As cascas que a envolvem se rompem e só assim , ela pode Florescer.

 (Psicóloga (Joelma Silva) – Atende em psicoterapia individual presencial em Belo Horizonte.  Realiza também mentoria online para questões de relacionamento, sexualidade, autoestima, resolução de conflitos, tecnologias para lidar com ansiedade, depressão e estresse, e outros temas existenciais como parte do projeto “Helper”. 
Com larga experiência, graças a sua vasta formação incluindo 9 especializações internacionais, tornou-se referência estratégias para saúde, bem estar e empoderamento feminino, solução de conflitos através de Constelações familiares, liderança; realiza grupos de desenvolvimento e treinamentos de alto impacto e palestras no Brasil e exterior. Seu treinamento mais conhecido é Ísis – A Mulher que Brilha).